sábado, 25 de fevereiro de 2006

Os jornalistas nas relações públicas

Escrevo este post a propósito de uma conversa que tive recentemente com uma profissional de relações públicas no Brasil. Confidenciou-me que no seu país existe uma enorme guerra entre jornalistas e RPs. Isto porque os jornalistas brasileiros pretendem trabalhar na área das relações públicas sem terem qualquer formação para tal. Em Portugal este cenário é semelhante.

Temos assistido nos últimos anos a uma invasão pacífica por parte dos jornalistas aos cargos que naturalmente deveriam ser ocupados por técnicos de relações públicas. Isto explica-se pelo simples facto de o jornalismo ser mal remunerado e de ser um dos mercados profissionais mais saturados do momento. Por mais novas publicações que surjam nas bancas, e nos últimos tempos temos assistido a muitas, não existe espaço para todas, acabando a maioria por ter um curto período de vida.

O que é inadmissível, e que eu condeno veementemente, é o facto destas pessoas licenciadas em jornalismo, ou apenas com experiência na área, serem escolhidas para cargos de comunicação em detrimento dos profissionais de relações públicas ou comunicação empresarial formados e preparados para tal.

Agora perguntam talvez alguns de vós: que valências faltarão aos jornalistas para ocupar os ditos cargos de comunicação? É simples - pensamento estratégico. Não basta escrever e redigir press releases ou ter alguns contactos privilegiados. Os tempos mudaram e a evolução do mercado aponta para que a estratégia seja um ponto determinante para o sucesso dos projectos de comunicação implementados.

O RPs do século XXI têm de cumprir o eixo E.R.I.C., ou seja, terão de ser estratégicos, rigorosos, inovadores e conhecedores. O modelo de relações públicas agarrado ao telefone horas e horas com conversas fúteis e pouco profícuas pertence ao passado. Os tempos de hoje exigem profissionais altamente qualificados, proactivos e focados nos objectivos das empresas, para que estas alcancem ano após ano resultados positivos e consistentes. Os projectos de comunicação para terem sucesso têm de ter coerência e pertinência, devendo ser traçados segundo uma linha condutora que justifica as acções e os timings aplicados.

Para terminar e voltando ao ponto inicial, situações com as que acontecem actualmente no Brasil, onde os jornalistas se juntam e orquestram campanhas de difamação nos media contra os profissionais de relações públicas, são sinceramente de lamentar profundamente. Ambas as profissões têm a sua área específica de intervenção e deveriam saber cooperar, pois desta forma, certamente, todos teriam a ganhar. Vejam só que até no marketing, eles, entenda-se os jornalistas, já pretendem entrar. No entanto, é curioso que depois estes mesmos profissionais estejam a criar uma lei que interdite a entrada nos meios de comunicação social de pessoas que tenham outras profissões como historiadores, pesquisadores, etc.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

Estratégias Desajustadas

Por força da minha experiência profissional tomei contacto há poucos dias com uma situação que mais uma vez remete as relações públicas para segundo plano em benefício da publicidade de forma injustificável.

Pelos meus anteriores posts alguns podem pensar que estou obcecado em deteriorar a imagem e o valor da publicidade. Não é verdade. Acho apenas que os tempos mudaram, os consumidores de hoje são diferentes dos de ontem, e existem actualmente outras formas de comunicar que conseguem obter iguais ou melhores resultados do que a publicidade em certos casos. No entanto, os gestores das nossas empresas ainda não se aperceberam destas mudanças, e continuam a ficar embevecidos sempre que um comercial entra pela porta a dentro do seu gabinete. Independentemente do projecto que têm para implementar, quer seja por comodismo quer seja por desconhecimento de outras formas de impactar os seus públicos, adjudicam propostas comerciais e gastam os seus orçamentos, que são cada vez mais escassos, de forma incompreensível.

Tomei recentemente conhecimento do desejo de uma empresa que actua na área da saúde em implementar um Prémio de Jornalismo. Em primeiro lugar, não se trata de uma iniciativa inovadora, antes pelo contrário, este já deve ser o 38º Prémio de Jornalismo a ser instituído em Portugal. Como se isto não bastasse, erram depois também na forma de o comunicar. Assim, foi-lhes apresentado uma proposta comercial de um anúncio (sim, leram bem, apenas um) de uma página num suplemento de saúde de um jornal generalista, e ao mesmo tempo, um plano de RP para seis meses. Valores rigorosamente iguais. Cada proposta atingia os 7.500 euros.

Não é que para meu espanto, a proposta de publicidade foi de imediato adjudicada (um anúncio – 7.500 euros), enquanto que o plano de RP que contemplava diversas acções durante seis meses espera pela aprovação, que na minha opinião nunca irá chegar.

Como é que a empresa promotora deste Prémio pretende ter impacto mediático com esta estratégia?!! Mais, como é que os jornalistas ficarão a saber da existência do Prémio com um simples anúncio?!! Será certamente mais um Prémio de Jornalismo condenado ao fracasso.

Este é um claro exemplo de uma estratégia suicida que não proporciona qualquer mais valia à empresa, e que envergonha todos os profissionais desta área, que, infelizmente, se deparam diariamente com cada vez mais episódios de despesismo e falta de inteligência como este que vos retratei aqui hoje.

domingo, 5 de fevereiro de 2006

Falta de ética – Caso real

Quem está na área das relações públicas e comunicação em Portugal sabe muito bem que para certas pessoas vale tudo para ganhar concursos e contas. As propostas de comunicação de algumas empresas são autênticas viagens ao mundo da fantasia, onde tudo se promete, por mais desajustado e ilusório que seja para o projecto em causa. São documentos onde, os apelidados de profissionais nesta área, libertam a sua criatividade, escrevendo aquilo que os clientes querem ouvir.

Anunciar durante a apresentação de uma proposta de relações públicas que aquele evento tem potencial para ser notícia num canal de televisão, é o que basta para ver os olhos do cliente a brilhar de satisfação. TV é a palavra mágica que encanta qualquer um. Estas reuniões são o palco preferencial para se dizerem as maiores barbaridades e fazerem promessas completamente irreais
, mas que aos olhos dos clientes, grandes desconhecedores da área das relações públicas (e aqui até incluo alguns dos responsáveis pela comunicação das empresas), são como que doces para crianças.

Os clientes na maior parte das vezes não detectam as promessas puramente demagógicas de algumas empresas de comunicação, o que leva a relações profissionais curtas e recheadas de insatisfação. No entanto, uma coisa são promessas exageradas e descabidas, outra coisa, e muito mais grave, é ter falta de ética na sua conduta profissional. E por isso, denuncio aqui uma situação que tomei conhecimento esta semana, e que me deixou completamente perplexo.

Actua no mercado português uma empresa que discrimina pormenorizadamente nas suas propostas (e eu tenho provas disso) os nomes dos meios de comunicação social onde conseguirá obter notícias. Assim, na proposta para um evento a que tive acesso, afirmaram claramente que,
dias antes da realização do mesmo, seriam obtidas notícias na agência Lusa, Correio da Manhã e Diário de Notícias. Para além disto, declararam que no dia da acção seriam veiculadas notícias pela rádio e televisão, e nos dias seguintes em outros meios, como o jornal Público e Diário de Notícias, e outros órgãos de cariz económico e financeiro. Tudo isto, pela módica quantia de 20 mil euros!

Como é possível afirmar que se conseguirão notícias nos meios X, Y ou Z a 3 meses de um evento?!! Como é possível acreditar que estas promessas serão cumpridas através do pagamento de uma determinada quantia?!! E acima de tudo, como é possível altos quadros de empresas multinacionais contratarem este tipo de serviço?!! Absolutamente lamentável!!!