Nos últimos dias muito se tem falado e escrito sobre a
comunicação do Governo, nomeadamente à forma como foram anunciadas as últimas
medidas de austeridade.
É consensual que foram vários os erros cometidos: conteúdo,
timing da comunicação, programa social após o anúncio das medidas, mensagem no
Facebook, demora nos esclarecimentos aos portugueses (entrevista RTP), etc.
Mas, o que deveria ter feito Passos Coelho, ou melhor, quais os conselhos e
instruções deveriam ter dado os seus assessores e conselheiros?
Na minha opinião não é de agora que a coligação PSD/CDS-PP
tem falhado ao nível da comunicação. Os portugueses estavam conscientes que o
atual elenco governativo tinha uma missão extremamente difícil quando tomou
posse, devido à pesada herança deixada por Sócrates como pelo exigente
cumprimento das medidas da troika para não comprometer a ajuda financeira
indispensável. Por isso a esmagadora maioria dos portugueses estava
sensibilizado e até disposto a fazer alguns sacrifícios pela recuperação do
país, mesmo que isso implicasse uma menor qualidade de vida durante algum
tempo. Então o que tem falhado? O que eu antecipei aqui a 24 de junho de 2011.
O atual Governo não tem comunicado com clareza nem
objetividade. Analisem o discurso de Pedro Passos Coelho no passado dia 7. Onde
está a honestidade do primeiro-ministro quando pede pesados sacrifícios aos
portugueses se o Governo não corta as suas “gorduras”, como é exemplo as
frequentes notícias que surgem nos media sobre carros luxuosos, equipas
numerosas ou salários exorbitantes? Se isto de facto não corresponde à
realidade, desmintam claramente, e processem se for necessário, o órgão de
comunicação social em causa. Por outro lado, e não é necessário ser muito
iluminado, por que não construir um website que demonstre todos os cortes que o
Estado fez ao nível da sua despesa. Eu não sei, você certamente também não sabe
e os portugueses, pelas manifestações de sábado, claramente também não sabem.
Um dos principais motivo de revolta das pessoas é o facto de
sentirem que o Governo não está a fazer os sacrifícios que elas estão a fazer
nas suas vidas. Por isso não acreditam que o seu esforço irá valer a pena,
desconfiando que daqui a alguns meses, ou talvez semanas, serão impostas novas
medidas de austeridade. Claramente não existe sintonia entre o Governo e os
portugueses. A legitimidade para pedir sacrifícios perdeu-se de vez nos últimos
dias. Tal como na vida profissional, as pessoas necessitam de ter objetivos e
metas concretas para estarem verdadeiramente envolvidas com as decisões tomadas
superiormente. Infelizmente, para todos nós, o Governo ainda não percebeu isso.