Hoje trago-vos aqui um caso real de comunicação de crise, com grande impacto mediático a nível nacional, que tive oportunidade de viver bem de perto. A cartelização na indústria farmacêutica.
Puxando um pouco o filme atrás, para os mais distraídos, a Autoridade da Concorrência anunciou no passado dia 13 que condenou cinco empresas da indústria farmacêutica a pagar 16 milhões de euros de multa por manipulação de preços em vários concursos públicos. Em comunicado, a Autoridade da Concorrência diz que decidiu condenar a Abbott Laboratórios, a Bayer, a Menarini Diagnósticos, a Roche Farmacêutica Química e a Johnson & Johnson por se terem concertado com o objectivo de "impedir, restringir ou falsear, de forma sensível, a concorrência através da fixação de preços".
Esta notícia dada em primeira mão pela Agência Lusa, foi o rastilho de uma bomba que explodiu momentos depois em televisões, rádios e imprensa. As notícias sobre este assunto abriram telejornais, blocos notíciosos nas rádios e fizeram primeiras capas quase em todos os jornais. Isto já para não falar dos diversos fóruns de discussão nos meios de comunicação social e na ida do Ministro da Saúde à SIC Notícias em horário nobre e em directo. Ou seja, muitas linhas se escreveram, muitos minutos de protagonismo teve este caso nos últimos dias.
A indústria farmacêutica é um alvo muito apetecível de muitos meios de comunicação social, tendo níveis de reputação e notoriedade quer junto destes, quer junto do público em geral muito reduzidos. Este caso ajudou assim, ainda mais, a manchar a imagem não só dos laboratórios envolvidos, como também de todo o sector. Isto porque as pessoas esta semana podem ainda ter em mente o nome das empresas envolvidas no caso, mas certamente que no próximo mês o que se irão lembrar será de que a indústria farmacêutica prejudicou muitos doentes portugueses.
Dos cinco laboratórios envolvidos, apenas um revelou que aceitava pagar a multa que lhe foi aplicada. Outros dois, rejeitaram as acusações, e houve um que nem sequer falou. O quinto e último envolvido, como colaborou com as investigações, remeteu-se também ao silêncio. Quem tomou a atitude mais correcta e menos penalizante?
As opiniões serão diversas, concerteza. Uns, argumentam que é preferível assumir desde o início a culpa e aceitar que errou. Outros, defenderão que negar (mesmo que seja o evidente) a injusta situação é a opção mais válida. Outros, dirão ainda que não falar, mantendo um low profile em todo o caso, será o caminho mais acertado.
Na minha opinião, o que não deixa qualquer dúvida é que este caso ajudou a prejudicar a má imagem pública que o sector tem em Portugal, lançando ainda mais dúvidas sobre o comportamento das empresas que actuam nesta área. O mercado necessita urgentemente de uma operação plástica!