domingo, 23 de outubro de 2005

As Pós-Graduações em Comunicação

Nos últimos tempos temos assistido ao nascimento de múltiplas pós-graduações na área da comunicação e relações públicas em Portugal. Serão todas válidas? Serão todas enriquecedoras? Serão uma mais valia profissional para as pessoas que as frequentam? Tenho sérias dúvidas!
Das dezenas de cursos que existem, contam-se talvez pelos dedos de uma mão só, os que realmente valem a pena investir tempo e dinheiro. Muitas pós-graduações em comunicação que existem em Portugal não têm programas científicos úteis nem professores com competências adequadas.
Eu sou defensor acérrimo da formação contínua, e penso que sem esta mentalidade e atitude não é possível evoluir, no entanto acho que se anda a comprar gato por lebre.
Compreendo que as pessoas que infelizmente estão no desemprego ou estagnadas profissionalmente procurem as pós-graduações com o objectivo de impulsionar as suas carreiras. No entanto, também infelizmente, existem no mercado outros que se aproveitam desta fragilidade, desenhando cursos e convidando professores mediáticos, apenas a pensar no retorno finaceiro dos mesmos.
Isto é como tudo. É fundamental beber informação junto de várias fontes, reflectir e tomar a decisão que se acha mais acertada. Com esta estratégia, temos muito mais hipóteses de sermos felizes!

domingo, 16 de outubro de 2005

Comunicação de Crise - Caso Real

Hoje trago-vos aqui um caso real de comunicação de crise, com grande impacto mediático a nível nacional, que tive oportunidade de viver bem de perto. A cartelização na indústria farmacêutica.
Puxando um pouco o filme atrás, para os mais distraídos, a Autoridade da Concorrência anunciou no passado dia 13 que condenou cinco empresas da indústria farmacêutica a pagar 16 milhões de euros de multa por manipulação de preços em vários concursos públicos. Em comunicado, a Autoridade da Concorrência diz que decidiu condenar a Abbott Laboratórios, a Bayer, a Menarini Diagnósticos, a Roche Farmacêutica Química e a Johnson & Johnson por se terem concertado com o objectivo de "impedir, restringir ou falsear, de forma sensível, a concorrência através da fixação de preços".
Esta notícia dada em primeira mão pela Agência Lusa, foi o rastilho de uma bomba que explodiu momentos depois em televisões, rádios e imprensa. As notícias sobre este assunto abriram telejornais, blocos notíciosos nas rádios e fizeram primeiras capas quase em todos os jornais. Isto já para não falar dos diversos fóruns de discussão nos meios de comunicação social e na ida do Ministro da Saúde à SIC Notícias em horário nobre e em directo. Ou seja, muitas linhas se escreveram, muitos minutos de protagonismo teve este caso nos últimos dias.
A indústria farmacêutica é um alvo muito apetecível de muitos meios de comunicação social, tendo níveis de reputação e notoriedade quer junto destes, quer junto do público em geral muito reduzidos. Este caso ajudou assim, ainda mais, a manchar a imagem não só dos laboratórios envolvidos, como também de todo o sector. Isto porque as pessoas esta semana podem ainda ter em mente o nome das empresas envolvidas no caso, mas certamente que no próximo mês o que se irão lembrar será de que a indústria farmacêutica prejudicou muitos doentes portugueses.
Dos cinco laboratórios envolvidos, apenas um revelou que aceitava pagar a multa que lhe foi aplicada. Outros dois, rejeitaram as acusações, e houve um que nem sequer falou. O quinto e último envolvido, como colaborou com as investigações, remeteu-se também ao silêncio. Quem tomou a atitude mais correcta e menos penalizante?
As opiniões serão diversas, concerteza. Uns, argumentam que é preferível assumir desde o início a culpa e aceitar que errou. Outros, defenderão que negar (mesmo que seja o evidente) a injusta situação é a opção mais válida. Outros, dirão ainda que não falar, mantendo um low profile em todo o caso, será o caminho mais acertado.
Na minha opinião, o que não deixa qualquer dúvida é que este caso ajudou a prejudicar a má imagem pública que o sector tem em Portugal, lançando ainda mais dúvidas sobre o comportamento das empresas que actuam nesta área. O mercado necessita urgentemente de uma operação plástica!

quarta-feira, 5 de outubro de 2005

A Origem dos Técnicos de Comunicação

No outro dia dei por mim a conversar com um colega meu sobre a origem das pessoas que trabalham nos departamentos de comunicação das empresas. A resposta surgiu ali rapidamente: vendas, recursos humanos ou secretariado, são alguns exemplos.
Curiosamente, as empresas, devido à necessidade de comunicarem com os seus diversos públicos, deslocam internamente pessoas provenientes das áreas mencionadas para os recém criados departamentos de comunicação. Muitas das vezes essas pessoas sem formação na área, ocupam mesmo o lugar de directores de comunicação. As fusões (e nos últimos tempos temos assistido a várias) são outro pretexto para isso acontecer. Para não se despedir tantas pessoas nestes processos, os gestores preferem arranjar uma solução interna, proveniente de outro departamento, sem formação adequada, para a área da comunicação. Isto acontece dado os gestores das empresas terem pouca ou mesmo nenhuma sensibilidade para esta disciplina, desvalorizando o potencial da mesma. Eles acreditam que todos têm capacidade e apetência para trabalhar nesta área.
Mais tarde, quando as empresas recorrem aos serviços de uma agência de comunicação as coisas complicam-se para estes últimos. Isto porque tem que se lidar com pessoas que pouco ou nada percebem, que pouca ou nenhuma experiência têm na área da comunicação. Desta forma, dizem os mais diversos disparates. Eis alguns exemplos:
- "Quantos jornalistas vamos ter na conferência de imprensa daqui a 3 dias?";
- "Eles não podem enviar os textos antes de serem publicados para nós revermos?";
- A uma hora do início da conferência de imprensa: "Soubemos agora que o nosso Director-Geral estará presente. Faça lá um forcing junto dos meios!";
- "Então e amanhã no evento temos televisões? E o Expresso?".
Para os clientes as suas iniciativas são sempre fantásticas e marcam sempre a agenda mediática nesse dia. Mesmo que o público-alvo não sejam os leitores do jornal Expresso ou Visão, eles gostam de ter notícias nestes meios. São considerados os órgãos de comunicação ideiais. Quero com isto dizer que tomam decisões em função de gostos pessoais e não em função da estratégia empresarial.
Podem pensar que são poucas as pessoas com responsabilidades na área da comunicação que fazem as perguntas ridículas que referi anteriormente, mas não, existem concerteza muitas e eu infelizmente conheço algumas. Exige-se uma mudança rapidamente!

domingo, 2 de outubro de 2005

Estagiários

Todos os meses chegam às agências de comunicação dezenas de CVs de jovens, ou menos jovens, à procura de um lugar no mundo da comunicação. Os meses de Setembro e Outubro são obviamente os períodos onde se regista o maior número de envios. Findado o curso superior, lançam-se à aventura, "disparando" uma série de CVs por correio e, graças às novas tecnologias, por email, reduzindo assim os custos da acção.
Curiosos pela, muitas das vezes, primeira experiência profissional, enchem-se de sonhos e ambições. No entanto, na maior parte dos casos, as coisas não se concretizam como desejam. Um dos principais problemas, será sem dúvida, a falta de oportunidades em crescer profissionalmente. Ou seja, muitas das vezes os jovens são utilizados para fazer apenas as tarefas que os outros mais velhos, e há mais tempo nos locais de trabalho, não querem fazer. São poucas as empresas que estimulam os mais novos e retiram daí os devidos proveitos.
Dada a muita oferta de recém-licenciados, as empresas de comunicação não se preocupam em formar as pessoas e utilizam-as de forma completamente errada. Na minha opinião, esta situação fica-se a dever a uma falta de formação dos gestores ao nível dos recursos humanos e de visão estratégica a médio-longo prazo. Desta forma, optam pela "gestão reciclável", ou seja, de 6 em 6 meses os estagiários renovam-se. Quem se poderá motivar assim, sabendo que por muito bom que seja o seu desempenho acabará por ser dispensado?!!
No meu entender, existem no mercado muitos profissionais séniores cheios de vícios que adoptam diariamente uma atitude passiva, acomodados talvez a alguns bons resultados que possam ter conseguido. Por outro lado, existem certamente alguns jovens dinâmicos e irreverentes empenhados em mostrar o seu valor, que mereciam pelo menos uma oportunidade. É uma questão de renovação saudável que só poderá ter um impacto positivo na empresa!